O Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, tem constituído desde então o principal quadro legal para os processos de licenciamento, comunicação prévia e controlo das operações urbanísticas em Portugal. Ao longo dos anos, sofreu diversas alterações, adaptando-se às exigências de simplificação administrativa, digitalização e maior responsabilização dos técnicos.
O Simplex surge neste contexto como um programa transversal da Administração Pública, cujo objetivo é simplificar procedimentos, reduzir prazos e aumentar a transparência, com impacto direto nos processos urbanísticos.
Principais alterações introduzidas pelo RJUE
O Regime Jurídico da Urbanização e Edificação introduziu alterações significativas que redefiniram a forma como os processos urbanísticos são conduzidos. Entre estas destaca-se o reforço da responsabilidade técnica, atribuindo aos projetistas, diretores de obra e fiscais um papel central e sujeitando-os a maior responsabilização civil e criminal.
Paralelamente, estabeleceu-se a diferenciação entre o licenciamento e a comunicação prévia, permitindo ajustar os procedimentos administrativos em função da natureza e do risco das obras. A lógica de controlo também foi revista, privilegiando a fiscalização sucessiva em detrimento de uma burocracia excessiva na fase inicial.
Por fim, promoveu-se a compatibilização do regime com legislação setorial, assegurando a integração de normas ambientais, de acessibilidade, de eficiência energética e de segurança contra incêndios, reforçando a coerência e a abrangência do enquadramento legal aplicável.
O impacto do Simplex nos processos de urbanização e edificação
O Simplex veio instaurar um novo paradigma de desmaterialização e simplificação administrativa, com forte impacto no trabalho dos técnicos ligados à urbanização e edificação.
Através da adoção de plataformas eletrónicas, como o Balcão do Empreendedor e sistemas municipais, tornou-se possível a submissão digital de projetos e a comunicação direta com os serviços competentes, agilizando procedimentos. Paralelamente, verificou-se uma redução dos prazos de apreciação, com a introdução de mecanismos como o deferimento tácito em caso de ausência de decisão administrativa.
Este modelo trouxe também uma maior confiança nos técnicos, que passaram a assumir a responsabilidade de certificar a conformidade legal e regulamentar dos projetos. A interoperabilidade entre diferentes entidades públicas e ordens profissionais reforçou ainda a eficiência e a transparência do processo, traduzindo-se numa gestão mais célere e integrada.
Desafios para os profissionais da área
Os desafios colocados pelo RJUE refletem-se diretamente na prática profissional dos técnicos, que deixam de ser meros autores de projetos para assumirem uma função de garantes da legalidade e da conformidade técnica. Esta responsabilização acrescida exige uma atualização constante, dado que o regime tem sido alvo de sucessivas alterações legislativas que impõem vigilância permanente para evitar inconformidades.
Acresce ainda a necessidade de dominar ferramentas digitais, fruto da transição para processos integralmente desmaterializados, que requerem o uso de plataformas eletrónicas e assinaturas digitais qualificadas. Por fim, a crescente complexidade dos projetos urbanos reforça a importância da articulação multidisciplinar, impondo uma cooperação mais estreita entre diferentes áreas técnicas e jurídicas para garantir soluções urbanísticas eficazes e sustentáveis.
Oportunidades
As oportunidades decorrentes do atual enquadramento legal e do Simplex traduzem-se numa maior agilidade no desenvolvimento de projetos, já que a redução da burocracia possibilita prazos mais curtos de aprovação.
Em paralelo, a valorização profissional é reforçada pelo aumento da responsabilidade técnica, que evidencia o papel das Ordens profissionais e a necessidade de certificação de competências.
A digitalização dos processos garante ainda maior transparência e rastreabilidade, reduzindo arbitrariedades administrativas e promovendo confiança entre todas as partes envolvidas.
Finalmente, a integração europeia manifesta-se no alinhamento com práticas de simplificação administrativa adotadas noutros Estados-Membros, contribuindo para a harmonização e modernização do setor em Portugal.
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O RJUE e o Simplex representam um binómio essencial para modernizar a gestão urbanística em Portugal. Se, por um lado, exigem maior rigor e responsabilidade por parte de Arquitetos, Urbanistas, Engenheiros Civis e Técnicos, por outro, abrem espaço a uma prática profissional mais valorizada, transparente e eficaz.
O sucesso desta transformação depende de uma atualização técnica permanente e de uma colaboração estreita entre profissionais e entidades públicas.

